Quilombo Sacopã - velhas e boas lembranças

Neste sábado, 11 de julho, terá uma roda de diálogo no Quilombo Sacopã, na Lagoa. Tenho uma ligação muito forte com o lugar, pois meu primeiro texto jornalístico, quando eu ainda estava no segundo período da faculdade, foi sobre o local. Segue abaixo o texto, publicado no portal Viva Favela, em 07/12/2009:

Antes tarde do que nunca
por: Fabiana Oliveira*
07/12/2004
No dia 4 de outubro de 2004, o Quilombo da Lagoa recebeu de representantes do ministério da Cultura os títulos de Comunidade Remanescente de Quilombo e um outro inédito: o de primeiro quilombo urbano do Brasil.

Localizado na Ladeira do Sacopã, na Lagoa, numa área de 18.000 metros quadrados, com 5 casas que abrigam aproximadamente 30 pessoas, os remanescentes passaram por muitas dificuldades até conseguirem o reconhecimento.

A luta na Justiça contra a especulação imobiliária vem desde a década de 80, com os quilombolas sendo difamados na região. Além disso, diversas vezes, a especulação imobiliária, respaldada pela lei, trancou as casas com correntes impedindo os moradores de terem acesso a elas.

Seguindo a tradição familiar de servir comida caseira aos trabalhadores, teve época em que as mulheres candaces do quilombo tinham que cozinhar escondidas na mata, para não serem vistas, e assim, ajudarem a garantir o sustento da comunidade.

A alegria e a receptividade do povo negro e a aptidão musical de Tia Nenén, atual primeira soprano da Igreja de Nossa Senhora Margarida e nascida no quilombo da Lagoa, ajudaram bastante nessa luta, atraindo vários aliados à causa, tais como Beth Carvalho, Hans Donner e sua esposa Valéria Valença, entre outros conhecidos sambistas.

Atualmente, a preocupação de Tia Nenén é preservar a história do quilombo. Pouco se sabe, pois, segundo ela, seus pais embora não sendo escravos, não gostavam muito de falar sobre o passado da comunidade; preferiram não passar aos filhos os sofrimentos dos dias de escravidão.

Desse pouco, restou uma vaga história de que o quilombo teria originado de uma gruta, existente até hoje, onde os negros fugidos das fazendas de café da Lagoa escondiam-se. Outra versão é que ali teria sido a sede da própria fazenda e por falta de descendentes, pois a última mulher que se intitulava dona das terras morreu há muitos anos, a propriedade acabou por ficar em mãos dos ex-cativos.

Independentemente de não saber a origem do quilombo, o que Tia Nenén lembra, e muito bem, é que quando criança, passeando pela mata da propriedade, viu um tronco com uma corrente. Questionando ao pai sobre o que era, foi repreendida e orientada a não mais se aproximar do local. No outro dia o pai havia cortado o tronco.

Outros fatos bem guardados na lembrança foram a abertura da Ladeira do Sacopã com pólvora, quando ela tinha somente seis anos; a nascente que irrigava a comunidade, extinta com a construção de uma chácara pelo Senador Dantas, que acabou por represar a água fresquinha da montanha, obrigando os moradores a consumirem água encanada; e o conhecimento, há 5 anos, da Fundação Cultural Palmares, que mostrou que ali era uma comunidade remanescente de quilombo e que seus moradores tinham direito a receber o título.

Embora o modo de vida não seja mais como o de seus antepassados, considerando que ali é um quilombo urbano, é inegável que o local realmente é uma comunidade remanescente, não só pelos vestígios, mas também pela magia que inunda aquele lugar, fazendo com que revivamos anos de luta, de existência e resistência do povo negro!

* A autora é graduanda em Comunicação Social pela FACHA (Faculdades Integradas Hélio Alonso) do Rio de Janeiro.

Mais informações sobre o evento:

O Quilombo Sacopã, a ACQUILERJ e a UFF, convidam para os Encontros noQuilombo Sacopã - uma Cultura Quilombola Carioca. Inscrições e informações pelo endereço
eletrônico eventosacopa@yahoo.com.br
Data: 11 de julho de 2009, a partir das
10:00h
Local: Quilombo Sacopã – Rua Sacopã,
250 – Lagoa – Rio de Janeiro

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