Brincadeiras como carinho de rolimã, pipas e bola de gude ainda podem ser vistos em ruas de algumas comunidades |
Brinquedos simples ainda colorem e alegram os becos e vielas da Maré. Segundo João Batista, 20 anos, morador da comunidade Baixa do Sapateiro, o período de cada brincadeira acompanha o calendário escolar:
“Nas férias de janeiro é só pipa, no meio do ano é bola de gude e mais para o fim do ano todo mundo compra pião”, diz.
João trabalha atualmente como guia do Museu da Maré, onde tem um espaço reservado especialmente para brinquedos que fizeram sucesso na região, como o bambolê, peteca, patinete de madeira, entre outros. Muitos deles poucas crianças viram.
“Hoje em dia, por causa da violência, tem diminuído o número de crianças se divertindo nas ruas daqui. Alguns brinquedos vão ficando de lado, mas ainda se joga futebol, as meninas com suas bonecas e muita pipa”, fala.
Elástico, pular corda, queimada, adoleta, galinha choca foram algumas das brincadeiras favoritas de Marli Damasceno, 47 anos, moradora do Morro do Timbau. Ela conta que teve sorte de crescer com bastante espaço, coisa difícil de achar atualmente no conglomerado de casas da Maré.
“Meu pai tinha um terreno bem grande, então brinquei muito até os 12 anos. Hoje uma menina nessa idade, dependendo do lugar, já está grávida”, comenta.
Ela também trabalha como guia no Museu da Maré e conta que os visitantes não conseguem identificar alguns brinquedos:
“Tem a brincadeira de andar de latinha, que são duas latas de leite vazias, cheias de terra, com um fio ligando uma a outra. Tem crianças que chegam aqui e pensam que é telefone sem fio”, diverte-se.
Como a maioria das famílias da Maré são de baixa renda, a impossibilidade de comprar brinquedos eletrônicos acaba auxiliando que alguns jogos antigos resistam ao tempo.
“Não é que as crianças prefiram apenas os jogos antigos, mas os eletrônicos são muito caros. Algumas brincadeiras foram diminuindo, mas continuam e creio que não vão acabar”, diz.
Brincar para desenvolver
As irmãs Ana Carolina e Suzana do Carmo, de 14 e 12 anos, dizem que brincam muito no Morro do Cavalão, em Niterói. Lá, elas aproveitam as ladeiras da comunidade para descer de carrinho de rolimã.
“As crianças brincam direto aqui. Eu sou um exemplo. Prefiro ficar na rua com meus colegas do que vendo televisão sozinha em casa”, conta Ana Carolina, que está cursando atualmente o Ensino Médio.
Suzana, que ainda brinca de bolinha de gude em frente de casa, completa: “De vez em quando eu jogo com o pessoal daqui. Acho muito legal brincar junto, porque se faz mais amigos”.
Cursando o Ensino Médio Normal, a moradora da Maré, Bruna Ferreira, 17 anos, diz que aprendeu muitas brincadeiras infantis na escola e que pretende utilizá-las nas aulas com seus futuros alunos:
“Aprendemos brincadeira como o passa anel e queimado para fazermos recreação com os pequenininhos. Às vezes, a professora mistura jogos recentes com os mais antigos e fica bem legal”.
Psicóloga do projeto Ana e Maria, do Viva Rio, Nádia Figueiredo diz que as brincadeiras coletivas são importantes para desenvolver a criatividade e a sociabilidade das crianças.
“O brincar em geral ajuda a criança a se organizar e é fundamental para o desenvolvimento emocional delas. Todo ser humano nasce buscando outro, a gente não foi feito para ser sozinho. Tudo o que é feito em parceria nos ajuda a desenvolver mais”, explica.
*Nota da autora: Com Brincadeiras do passado, que foi publicada no site Viva Favela, em 21 de maio de 2011, inauguro a série de reportagens, escritas para diversos lugares, que republicarei aqui. Quando pensei nisso o primeio objetivo foi reunir em um único lugar o material que produzo, mas depois surgiu a vontade de comentar os bastidores também. Continua...
*Nota da autora: Com Brincadeiras do passado, que foi publicada no site Viva Favela, em 21 de maio de 2011, inauguro a série de reportagens, escritas para diversos lugares, que republicarei aqui. Quando pensei nisso o primeio objetivo foi reunir em um único lugar o material que produzo, mas depois surgiu a vontade de comentar os bastidores também. Continua...
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