Camões - Sete anos de pastor Jacob servia

Esses dias andando pela rua, lembrei de alguns versos desse soneto de Camões que li ainda adolescente. Não lembrava o autor e nem o verso completo, só lembrava que era belo.

Ontem consegui lembrar boa parte dele e hoje, graças ao Google. Achei na íntegra o que para mim, é um dos mais belos sonetos que há. Você concorda?


Para quem não conhece, logo após o poema segue a história biblíca de Jacó e Raquel:


Camões - Sete anos de pastor Jacob servia

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!


A história


Gênesis, Capítulo 29

1 Então pôs-se Jacó a caminho e chegou à terra dos filhos do Oriente.
2 E olhando, viu ali um poço no campo, e três rebanhos de ovelhas deitadas junto dele; pois desse poço se dava de beber aos rebanhos; e havia uma grande pedra sobre a boca do poço.
3 Ajuntavam-se ali todos os rebanhos; os pastores removiam a pedra da boca do poço, davam de beber às ovelhas e tornavam a pôr a pedra no seu lugar sobre a boca do poço.
4 Perguntou-lhes Jacó: Meus irmãos, donde sois? Responderam eles: Somos de Harã.
5 Perguntou-lhes mais: Conheceis a Labão, filho de Naor; Responderam: Conhecemos.
6 Perguntou-lhes ainda: vai ele bem? Responderam: Vai bem; e eis ali Raquel, sua filha, que vem chegando com as ovelhas.
7 Disse ele: Eis que ainda vai alto o dia; não é hora de se ajuntar o gado; dai de beber às ovelhas, e ide apascentá-las.
8 Responderam: Não podemos, até que todos os rebanhos se ajuntem, e seja removida a pedra da boca do poço; assim é que damos de beber às ovelhas.
9 Enquanto Jacó ainda lhes falava, chegou Raquel com as ovelhas de seu pai; porquanto era ela quem as apascentava.
10 Quando Jacó viu a Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e as ovelhas de Labão, irmão de sua mãe, chegou-se, revolveu a pedra da boca do poço e deu de beber às ovelhas de Labão, irmão de sua mãe.
11 Então Jacó beijou a Raquel e, levantando a voz, chorou.
12 E Jacó anunciou a Raquel que ele era irmão de seu pai, e que era filho de Rebeca. Raquel, pois foi correndo para anunciá-lo a, seu pai.
13 Quando Labão ouviu essas novas de Jacó, filho de sua irmã, correu-lhe ao encontro, abraçou-o, beijou-o e o levou à sua casa. E Jacó relatou a Labão todas essas, coisas.
14 Disse-lhe Labão: Verdadeiramente tu és meu osso e minha carne. E Jacó ficou com ele um mês inteiro.
15 Depois perguntou Labão a Jacó: Por seres meu irmão hás de servir-me de graça? Declara-me, qual será o teu salário?
16 Ora, Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Léia, e o da mais moça Raquel.
17 Léia tinha os olhos enfermos, enquanto que Raquel era formosa de porte e de semblante.
18 Jacó, porquanto amava a Raquel, disse: Sete anos te servirei para ter a Raquel, tua filha mais moça.
19 Respondeu Labão: Melhor é que eu a dê a ti do que a outro; fica comigo.
20 Assim serviu Jacó sete anos por causa de Raquel; e estes lhe pareciam como poucos dias, pelo muito que a amava.
21 Então Jacó disse a Labão: Dá-me minha mulher, porque o tempo já está cumprido; para que eu a tome por mulher.
22 Reuniu, pois, Labão todos os homens do lugar, e fez um banquete.
23 À tarde tomou a Léia, sua filha e a trouxe a Jacó, que esteve com ela.
24 E Labão deu sua serva Zilpa por serva a Léia, sua filha.
25 Quando amanheceu, eis que era Léia; pelo que perguntou Jacó a Labão: Que é isto que me fizeste? Porventura não te servi em troca de Raquel? Por que, então, me enganaste?
26 Respondeu Labão: Não se faz assim em nossa terra; não se dá a menor antes da primogênita.
27 Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo trabalho de outros sete anos que ainda me servirás.
28 Assim fez Jacó, e cumpriu a semana de Léia; depois Labão lhe deu por mulher sua filha Raquel.
29 E Labão deu sua serva Bila por serva a Raquel, sua filha.
30 Então Jacó esteve também com Raquel; e amou a Raquel muito mais do que a Léia; e serviu com Labão ainda outros sete anos.
31 Viu, pois, o Senhor que Léia era desprezada e tornou-lhe fecunda a madre; Raquel, porém, era estéril.
32 E Léia concebeu e deu à luz um filho, a quem chamou Rúben; pois disse: Porque o Senhor atendeu à minha aflição; agora me amará meu marido.
33 Concebeu outra vez, e deu à luz um filho; e disse: Porquanto o Senhor ouviu que eu era desprezada, deu-me também este. E lhe chamou Simeão.
34 Concebeu ainda outra vez e deu à luz um filho e disse: Agora esta vez se unirá meu marido a mim, porque três filhos lhe tenho dado. Portanto lhe chamou Levi.
35 De novo concebeu e deu à luz um filho; e disse: Esta vez louvarei ao Senhor. Por isso lhe chamou Judá. E cessou de ter filhos.

2 comentários:

Hugo Ferreira Zambukaki disse...

O poema é muito bonito, estava procurando a história de Jacob e os sete anos encontrei teu recanto.

Obrigado por lembrar que Camões é um grande poeta
Força e Fé
Hugo

http://zambukaki.blogspot.com/

LAMPIÃO disse...

Gostei do "...Camões é". Realça bem que a beleza de seus versos permanece. Ele não foi, ele é. Perfeito.