A bizarra história das Garotas do Rádio
Via Mdig
As "Garotas do Rádio" em plena ação na fábrica de Orange, Nova Jersey.
Inconscientes de seu pecado as coitadas, perderam dentes, unhas e inclusive a vida, antes de constatar e denunciar à fábrica de relógios onde trabalhavam por usar pinturas venenosas. Também conseguiram a instauração, pela primeira vez, do direito de um trabalhador a demandar por condições trabalhistas abusivas. Esta é a sua história.
Em 1898, Marie Curie - a sempiterna cientista do vestido negro- isolava o rádio em estado puro, estabelecendo definitivamente sua condição de elemento na tabela periódica. A manipulação e experimentação da primeira "garota radioativa" da história rendeu-lhe dois prêmios Nobel e uma anemia aplástica que acabou com sua vida. Ainda hoje, suas anotações e cadernos de pesquisa não podem ser manipulados sem proteção devido à radioatividade de seu isótopo mais estável.
As propriedades fosforescente do rádio -ao misturá-lo com o sulfeto de zinco- foram imediatamente aproveitadas pela onipresente indústria militar norte-americana de então para seus aparelhos e instrumentos de navegação noturna, como relógios e velocímetros de veículos militares. Para isso depuraram a extração do rádio de um mineral chamado carnotita e assim produzir a maior patente de pintura luminosa, radioativa e venenosa da história: O Undark.
Na Europa, especialmente na Suíça, existiam tantos pintores de rádio que era muito normal reconhecê-los pela rua. Todos eles brilhavam na escuridão como se um halo mágico os perseguisse.
Em 1898, Marie Curie - a sempiterna cientista do vestido negro- isolava o rádio em estado puro, estabelecendo definitivamente sua condição de elemento na tabela periódica. A manipulação e experimentação da primeira "garota radioativa" da história rendeu-lhe dois prêmios Nobel e uma anemia aplástica que acabou com sua vida. Ainda hoje, suas anotações e cadernos de pesquisa não podem ser manipulados sem proteção devido à radioatividade de seu isótopo mais estável.
As propriedades fosforescente do rádio -ao misturá-lo com o sulfeto de zinco- foram imediatamente aproveitadas pela onipresente indústria militar norte-americana de então para seus aparelhos e instrumentos de navegação noturna, como relógios e velocímetros de veículos militares. Para isso depuraram a extração do rádio de um mineral chamado carnotita e assim produzir a maior patente de pintura luminosa, radioativa e venenosa da história: O Undark.
Na Europa, especialmente na Suíça, existiam tantos pintores de rádio que era muito normal reconhecê-los pela rua. Todos eles brilhavam na escuridão como se um halo mágico os perseguisse.
Publicidade do Undark. Pigmento cancerígeno de uso estendido até os anos 60.
A United States Radium Corporation em Orange, Nova Jersey, foi a empresa encarregada da fabricação e distribuição do perigoso pigmento e de várias de suas técnicas para a pintura dos componentes militares. A mais avançada de todas elas era a aplicação do produto mediante a "tecnologia manual aplicada de primeira geração" isto é, a pincel e mão sem proteção... e se fosse feminina e delicada muito melhor. Enquanto os diretores suspeitavam e protegiam-se com máscaras e luvas de chumbo, as 70 mulheres contratadas na fábrica para as tarefas de manipulação e pintura, faziam-no com uniforme corporativo e como se pintassem um quadro. Ninguém informou o perigo da manipulação do Undark. Tudo pela boa imagem da empresa. Uns 4.000 empregados passaram pela peçonhenta fábrica.
Com delicados pincéis de pelo de camelo aplicavam o produto nas agulhas e nos marcadores dos diais de relógios e contadores; as vezes lambendo uma e outra -por indicação trabalhista- para afiar a precisão dos pequenos pincéis. Como um jogo divertido de paquera e veleidade, utilizavam também a pintura luminosa para pintar as unhas, dentes e polvilhar o cabelo nas escassas aventuras trabalhistas que tinham com a ingenuidade de sua perigosíssima ignorância. Cobravam um centavo e meio de dólar por cada dial pintado, mas levavam para casa uma curiosa e única maneira de enfeitar-se com material radioativo e luminescente.
Com delicados pincéis de pelo de camelo aplicavam o produto nas agulhas e nos marcadores dos diais de relógios e contadores; as vezes lambendo uma e outra -por indicação trabalhista- para afiar a precisão dos pequenos pincéis. Como um jogo divertido de paquera e veleidade, utilizavam também a pintura luminosa para pintar as unhas, dentes e polvilhar o cabelo nas escassas aventuras trabalhistas que tinham com a ingenuidade de sua perigosíssima ignorância. Cobravam um centavo e meio de dólar por cada dial pintado, mas levavam para casa uma curiosa e única maneira de enfeitar-se com material radioativo e luminescente.
Provas do julgamento. Posto de trabalho e estragos do rádio no queixo das garotas.
Pouco a pouco as mulheres foram adoecendo: anemia, neoplasia, necrose e o que mais tarde foi batizado como "Queixo de Rádio". Em 1925 um dentista de Nova York atribuiu as patologias encontradas em 80% das mulheres da fábrica à toxicidade do fósforo. Enquanto vários relatórios, pagos pelos proprietários da empresa, intoxicaram à opinião pública achacando os sintomas a doenças de transmissão sexual como a sífilis; em uma tentativa de manchar a reputação das trabalhadoras.
Até que uma delas decidiu processar a empresa e conseguiu mobilizar à opinião pública no que passou a ser considerada a primeira demanda por danos ocasionados em condições trabalhistas abusivas; criando jurisprudência e os precedentes legais para redigir as primeiras leis modernos de segurança e saúde no trabalho.
Até que uma delas decidiu processar a empresa e conseguiu mobilizar à opinião pública no que passou a ser considerada a primeira demanda por danos ocasionados em condições trabalhistas abusivas; criando jurisprudência e os precedentes legais para redigir as primeiras leis modernos de segurança e saúde no trabalho.
Curta de animação "Glow" que conta a história das Garotas do Rádio.
Grace Fryer demorou dois anos e 9 dentes para encontrar o advogado Raymond Berry; único letrado que aceitou preparar o processo contra a United States Radium Corporation. Com o apoio de mais cinco garotas da fábrica e a cumplicidade de alguns meios muito sensibilizados pela história, levaram o litígio aos tribunais em 1928. Tiveram que enfrentar vários obstáculos pagos com o dinheiro do rádio e médicos cupinchas da empresa. Felizmente as sequelas das garotas tornavam evidente o inquestionável.
A empresa foi condenada finalmente a pagar 100.000 dólares -dos 250.000 pedidos pelo ministério fiscal- e uma pensão mensal e vitalícia à cada uma das "garotas radioativas"; ainda que muitas delas nunca receberam uma só mensalidade. Alguns meses depois a fábrica fechou por causa das dificuldades no modelo de negócio de um produto perigoso e as críticas públicas a um gerenciamento delitivo e humilhante para com seus trabalhadores. Ninguém queria trabalhar para a United States Radium Corporation.
A última "garota radioativa" morreu de câncer em 1930. Mas não foi em vão, elas despertaram o movimento sindical pela defesa dos direitos civis do trabalhador, ratificado em 1948. E modificaram, ademais, todos os procedimentos para a manipulação dos pigmentos e substâncias radioativas.
Ainda hoje é possível medir a radiação emitida por muitas das sepulturas das "Garotas do Rádio".
Curiosidade: Se você tem um relógio fabricado antes de 1968 cujos ponteiros podem ser vistos no escuro, é certo que utiliza compostos radioativos como o Undark.
A empresa foi condenada finalmente a pagar 100.000 dólares -dos 250.000 pedidos pelo ministério fiscal- e uma pensão mensal e vitalícia à cada uma das "garotas radioativas"; ainda que muitas delas nunca receberam uma só mensalidade. Alguns meses depois a fábrica fechou por causa das dificuldades no modelo de negócio de um produto perigoso e as críticas públicas a um gerenciamento delitivo e humilhante para com seus trabalhadores. Ninguém queria trabalhar para a United States Radium Corporation.
A última "garota radioativa" morreu de câncer em 1930. Mas não foi em vão, elas despertaram o movimento sindical pela defesa dos direitos civis do trabalhador, ratificado em 1948. E modificaram, ademais, todos os procedimentos para a manipulação dos pigmentos e substâncias radioativas.
Ainda hoje é possível medir a radiação emitida por muitas das sepulturas das "Garotas do Rádio".
Curiosidade: Se você tem um relógio fabricado antes de 1968 cujos ponteiros podem ser vistos no escuro, é certo que utiliza compostos radioativos como o Undark.
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