Fabiana André
Um pouco do Brasil, um pouco de África, um pouco de como vejo o mundo!
Luanda tem 36 carteiros para 6,5 milhões de habitantes
*Matéria publicada originalmente no site redeangola.info
Foto: Ampe Rogério
O quotidiano de quem enfrenta os desafios de entregar correspondência em Luanda.
Luanda, cinco da manhã. Como é normal na rotina dos habitantes da capital, há muito Costa Gaspar, 33 anos, já se levantou para mais um dia de trabalho. Pai de dois filhos, o que mais o motiva é a esperança de adquirir casa própria. Ele é um dos 36 carteiros que, com dois motoqueiros, compõem o quadro de profissionais dos Correios de Angola em Luanda, uma cidade que segundo, os dados premilinares do Censo Geral da População, tem 6,5 milhões de habitantes.
Isto é, cada carteiro dos Correios de Angola tem de servir mais de 180 mil pessoas.
Trabalhando como carteiro há três anos, Gaspar almeja fazer carreira dentro da empresa. Enquanto isso não acontece, vai vencendo os desafios de entregar correspondências todos os dias. Há muitas ruas sem nome, além da ausência de um código postal, o que dificulta de sobremaneira o exercício da profissão. “Se Luanda fosse bem urbanizada, não teríamos esse problema. Temos essa dificuldade das casas não estarem bem numeradas. Umas estão, outras não. A maior parte não está mesmo”, lamenta.
“Suponhamos que eu esteja à procura da casa número 20 e encontre a 16 ou 13. Pergunto aos vizinhos até achar a pessoa, mas há vezes também que a própria vizinhança não conhece o destinatário”, explica o carteiro.
Além dos problemas de numeração das ruas e casas, há ainda uma questão cultural. “Por vezes na carta está um nome, mas na vizinhança é conhecido por outro. Isso é muito comum”, conta, referindo-se ao facto de muitas vezes o nome de registo não ser o mesmo com que a pessoa é conhecida pelas redondezas. A pessoa é registada com um nome, mas ganha outro em casa e ainda tem o próprio nome que ela se dá e se apresenta aos outros.
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Amor por Contrato
O título pode até parecer que é uma comédia romântica, mas não. Esse é o título de um filme que tem como fundo algo a que somos bombardeados 24h por dia: marketing oculto. Para você entender melhor, segue o resumo:
“O filme mostra uma família aparentemente perfeita, que se muda para um novo bairro e imediatamente passa a ser o centro das atenções, sempre pelos melhores motivos. Mas por trás desta perfeição esconde-se um segredo. A família perfeita na verdade é uma farsa, parte de uma campanha de marketing que pretende vender diversos produtos luxuosos a famílias de todo o mundo”.
Para quem já viu, sabe como tudo termina. Não existe família perfeita. Conviver é algo difícil, e não importa quanto dinheiro você tenha na conta bancária. O que quero chamar atenção é para que aprendamos a filtrar a enxurrada de informação que recebemos ao longo de nossas vidas. Num mundo de aparências, onde o “ter” é extremamente valorizado, somos estimulados a isso todo tempo. Só que felicidade não é “ter”; felicidade é “ser”.
Não somos felizes por que temos uma boa casa, um belo carro, um cartão de crédito sem limite. Se atrelarmos nossas vidas a isso, teremos um viver vazio. Nem todo dinheiro do mundo é capaz de comprar as reais necessidades da nossa alma. Ser feliz é algo que está além de qualquer coisa que se possa adquirir; é opção. Vida “perfeita” não existe. E a felicidade nada mais é do que escolher ser feliz.
Fabiana André
Um olhar pela janela
Hoje eu olhei pela janela
A mesma que todos os dias abro
Para que o ar circule pela manhã
A mesma que todas as noites eu fecho
Para manter aquecido o que as noites de inverno
Teimam em resfriar
Hoje realmente eu olhei pela janela
Foi rápido, mas olhei
E vi como a repetição, a rotina,
Torna nossa vida tão desprovida de cores, sabores
Hoje me vi pensando quantos momentos perdi
Simplesmente porque desaprendi a olhar verdadeira
Para o lado de fora da janela...
A mesma que todos os dias abro
Para que o ar circule pela manhã
A mesma que todas as noites eu fecho
Para manter aquecido o que as noites de inverno
Teimam em resfriar
Hoje realmente eu olhei pela janela
Foi rápido, mas olhei
E vi como a repetição, a rotina,
Torna nossa vida tão desprovida de cores, sabores
Hoje me vi pensando quantos momentos perdi
Simplesmente porque desaprendi a olhar verdadeira
Para o lado de fora da janela...
Rio, 18 de agosto de 2012
Fabiana André
Não desista dos seus sonhos!
Na época em que tiraram esta foto, Michele e Barack Obama não sabiam que ele seria presidente e ela primeira dama da maior potência mundial. Mas eu tenho certeza que eles tinham um sonho, ou sonhos e que por eles lutaram até alcançá-los. Que Deus nos ajude para que ao longo de nossa caminhada nunca venhamos desistir ou negligenciar os nossos sonhos. Afinal, quem sabe para onde eles podem nos levar?
Beijinhos e bom fim de semana!
É de lá que eu vim!
No dia 25 de maio de 1963, 32 chefes de Estado africanos se reuniram contra a colonização e subordinação a que todo um continente repetidamente foi submetido durante séculos.
Colonialismo, neocolonialismo, "partilha da África". Os termos mudaram ao longo do tempo, mas os africanos viam suas riquezas naturais e humanas sendo roubadas por povos que se consideravam superiores. Na reunião de 1963, em Adis Abeba, capital da Etiópia, esses líderes criaram a OUA (Organização da Unidade Africana), hoje a União Africana.
Dada a importância daquele momento, o 25 de maio foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1972, Dia da Libertação da África. Simboliza a luta e combate dos povos do continente africano pela sua independência e emancipação. Representa a memória coletiva dos seus povos e o objetivo comum de unidade e solidariedade na luta para o desenvolvimento econômico do continente.
Bem comecei fazendo a apresentação da data comemorativa, pois muitos nem sabem o motivo dela existir. Mas para mim, dia da África é todo dia quando acordo e me olho no espelho. A imagem refletida diz nitidamente: É de lá que eu vim!
No Brasil, só tem brancos para termos 99,99% dos telejornais e programas apresentados por brancos?
Bom dia meus amigos. A semana começa com chuva e frio aqui no Rio. Olhando minha caixa de e-mails, li a matéria abaixo feita pelo Comunique-se sobre a palestra do Heraldo Pereira, no lançamento do Prêmio Abdias Nascimento, aqui mesmo, na quinta-feira, 10. E sim, precisamos de mais negros e negras nos noticiários brasileiros.
Quando você sai do Brasil, em especial para países africanos o choque é imenso. Os noticiários, programas de TV, são apresentados 99% por negros. Aí vocês podem dizer: "ah, mas lá só tem negros". O que não é verdade. Mas e no Brasil, só tem brancos para termos 99,99% dos telejornais e programas apresentados por brancos?
Os negros somam mais de 50% da população. Fora indígenas que, a meu ver também deveriam ter espaço na mídia. Mas a velha tentativa de embranquecer o país, se não deu muito certo na prática vem sendo imposta pela elite branca nos meios de comunicação, na tentativa de vender a imagem de um país branco.
E isso, reflete terivelmente na auto-estima das crianças negras que não se veem representadas, sem contar na ajuda que a mídia brasileira dá para legitimação do racismo, como eu escrevi na minha monografia de conclusão do curso de jornalismo, que teve como título, Hora do Espetáculo - como a mídia ajuda a criar e/ou legitimar o estereótipo favelado/marginal/bandido.
Quando você sai do Brasil, em especial para países africanos o choque é imenso. Os noticiários, programas de TV, são apresentados 99% por negros. Aí vocês podem dizer: "ah, mas lá só tem negros". O que não é verdade. Mas e no Brasil, só tem brancos para termos 99,99% dos telejornais e programas apresentados por brancos?
Os negros somam mais de 50% da população. Fora indígenas que, a meu ver também deveriam ter espaço na mídia. Mas a velha tentativa de embranquecer o país, se não deu muito certo na prática vem sendo imposta pela elite branca nos meios de comunicação, na tentativa de vender a imagem de um país branco.
E isso, reflete terivelmente na auto-estima das crianças negras que não se veem representadas, sem contar na ajuda que a mídia brasileira dá para legitimação do racismo, como eu escrevi na minha monografia de conclusão do curso de jornalismo, que teve como título, Hora do Espetáculo - como a mídia ajuda a criar e/ou legitimar o estereótipo favelado/marginal/bandido.
Mas isso é assunto para outro post. Por enquanto, fiquem com a matéria d acolega Priscila Fonseca sobre o evento...
“Os negros são suprimidos do noticiário”, diz Heraldo Pereira
Priscila Fonseca
Durante discurso no lançamento do Prêmio de Jornalismo Abdias Nascimento, evento realizado nessa quinta-feira, 10, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, o jornalista Heraldo Pereira, da Rede Globo, defendeu o aumento de pautas sobre a discussão racial no Brasil. Para ele, “os negros são suprimidos do noticiário”.
Pereira avaliou que produzir reportagens sobre as condições dos negros não é racismo e nem se tornará atitude separatista de povos. “Isso não é ativismo político, é defesa dos direitos humanos, da cidadania. Dirão que queremos dividir a sociedade, mas, quando mostrarmos números (estatísticas da desigualdade), não tem quem não ficará constrangido”.
O funcionário da Globo também fez comparações com jornalistas negros, como Abdias Nascimento e Luiz Gama. Ele comentou que a imagem dos veículos de comunicação terem poucos negros. “Acho que, muitas vezes, os negros são suprimidos do noticiário, de modo geral. As pessoas acham que o Brasil é um país branco, inclusive nas redações.” avaliou o jornalista.
Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento - 2012
A edição 2012 da premiação será lançada nesta quinta-feira, 10, na Cinelândia, Rio de Janeiro.
Organizado pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Rio
de Janeiro (Cojira-Rio), o prêmio oferece R$ 35 mil distribuídos em
sete categorias: Mídia Impressa, Televisão, Rádio, Mídia Alternativa ou
Comunitária, Fotografia, Internet, e Especial de Gênero. As inscrições
podem ser feitas até o final de maio
Objetivos do Prêmio
O Prêmio Nacional JORNALISTA ABDIAS
NASCIMENTO tem o propósito de estimular a produção de conteúdos
jornalísticos que contribuam para a prevenção, o combate e a eliminação
de todas as formas de manifestação do racismo e da discriminação racial.
O prêmio também se propõe a incentivar a cobertura jornalística sobre o combate às desigualdades raciais no Brasil, além de impulsionar nas redações em todo o país a prática de um jornalismo plural com foco na promoção da igualdade racial.
Um das metas principais é valorizar as iniciativas no jornalismo brasileiro que estejam contribuindo para a compreensão do racismo como um problema estrutural no campo das desigualdades e dar visibilidade às soluções inovadoras para a superação do racismo no país.
O prêmio também se propõe a incentivar a cobertura jornalística sobre o combate às desigualdades raciais no Brasil, além de impulsionar nas redações em todo o país a prática de um jornalismo plural com foco na promoção da igualdade racial.
Um das metas principais é valorizar as iniciativas no jornalismo brasileiro que estejam contribuindo para a compreensão do racismo como um problema estrutural no campo das desigualdades e dar visibilidade às soluções inovadoras para a superação do racismo no país.
Fonte: Site do Evento
Ame a si mesma
E para começar bem a semana, não se esqueça de amar-se intensamente!
Ame a si mesma
Ame-se! Assim mesmo, do jeito que você é!
Ame sua beleza negra
A terra que te formou
Ame-se!
Não importa o quanto te fizeram crer
Que tua cor era maldição
Inferioridade, sujeira...
Não importa o que disseram sobre teu cabelo
Ruim? Quem disse isso?
Não importa se zombaram de teu nariz
De teus lábios grossos, hoje tão cultuados
Não interessa
És bela assim, do jeito que és
Rejeite todas essas palavras
E, acredite, és rainha!
E não interessa que pensem ao contrário
O importante é que dentro de ti, tenhas isto como certo:
Eu me amo. E isso basta para me fazer feliz!
Com carinho a todas mulheres negras,
Fabiana André
Rio, 06 de maio de 2012.
19h40
Crédito: Imagem Internet.
Ame a si mesma
Ame-se! Assim mesmo, do jeito que você é!
Ame sua beleza negra
A terra que te formou
Ame-se!
Não importa o quanto te fizeram crer
Que tua cor era maldição
Inferioridade, sujeira...
Não importa o que disseram sobre teu cabelo
Ruim? Quem disse isso?
Não importa se zombaram de teu nariz
De teus lábios grossos, hoje tão cultuados
Não interessa
És bela assim, do jeito que és
Rejeite todas essas palavras
E, acredite, és rainha!
E não interessa que pensem ao contrário
O importante é que dentro de ti, tenhas isto como certo:
Eu me amo. E isso basta para me fazer feliz!
Com carinho a todas mulheres negras,
Fabiana André
Rio, 06 de maio de 2012.
19h40
Crédito: Imagem Internet.
Primeira Poesia
Primeira poesia
Quero o calor do teu corpo entrelaçado ao meu
O beijo, o desejo, o teu toque suave, intenso
Quero ser o sonho que amanhece e desperta os teus
Quero após um dia de trabalho receber-te, ainda tenso,
Com o sorriso de alívio que acolhe e refrigera o teu
Quero o teu triste e distante sorrir, tuas alegres lágrimas contidas
Distantes, contínuas, intensas, ardentes, tensas, constantes
Quero os sussurros que saem de teus lábios como as batidas
Que devoro, certa que são efêmeras; apenas alguns instantes
Quero teu cheiro após um dia árduo
Teu gosto viril, adocicado
O suor de tua pele que teu corpo encanta
Tenho como certo que te quero
e anseio sentir o ar gélido que sai de tua boca;
como o frio vento que refrigera as quentes tardes em Luanda.
Rio, 07 de novembro de 2011, 16h20, Fabiana André
Conhecendo as raízes
por: Fabiana Oliveira (André)
24/05/2006
Localizado a cerca de 55 Km de Valença, município do interior do estado do Rio de Janeiro, o quilombo São José da Serra é um referencial de preservação de tradições africanas. O passado e o presente misturam-se no cotidiano desses moradores que ainda utilizam o candeeiro, o ferro a brasa e o fogão a lenha. Por uma estrada de terra batida, tão antiga quanto os 150 anos da comunidade, pesquisadores, jornalistas e caravanas vindas de várias regiões do país, aventuram-se em busca de um contato mais íntimo com a cultura local ou até mesmo um conhecimento mais aprofundado das próprias raízes.
A história da área começa em meados do século XIX, quando negros bantos chegam como escravos na fazenda Santa Isabel, a fim de trabalharem nas lavouras de café da região. Entre eles estavam os casais Tertuliano e Miquelina; Pedro e Militana. Avós de Manoel Seabra, 86 anos, atual patriarca da comunidade:
“Meus avós foram trazidos como escravos para a fazenda Santa Isabel. Ali tinha uma pessoa que maltratava e batia muito nos negros. Como na época já existia a fazenda São José, eles acabaram fugindo para cá, trabalhando em troca de moradia. Meu pai dizia que tinha uns negros que eram forros, trabalhavam nos cafezais, mas não eram castigados. Aqui era tudo mata e vovó morava bem nesse terreiro, onde construíram a capela. Depois os filhos deles casaram e tiveram filhos. O que eu tenho de irmãos nesse mundo de meu Deus, nem sei, ao certo", revela.
Muitos desses familiares permaneceram no local e constituem hoje a Comunidade Remanescente de Quilombo São José. Outros saíram a procura de melhores condições de vida. A pesquisadora do Projeto Raízzes, Marília Felipe, que procura valorizar a importância da influência da cultura africana na construção da sociedade brasileira, conta que alguns desses quilombolas migraram para diversas regiões do país, inclusive indo parar na Baixada Fluminense:
“Com o fim da lavoura de café e a falta de serviço na região de Valença, alguns desses moradores mudaram-se do quilombo. Há registros de alguns deles como o da irmã mais velha dos 15 irmãos, do senhor Manoel Seabra, Vó Brandina, mãe de Dona Zeferina. Ela mudou-se para Nova Iguaçu e trabalhou por algum tempo em plantações de laranja da Baixada”, explica.
Dia de festa
No mesmo terreiro onde foram construídas as primeiras casas de escravos, no Dia 13 de Maio, é realizada uma grande festa em homenagem aos Pretos Velhos, considerados guias ou protetores, por seguidores da umbanda, religião de matriz africana cultuada no Brasil. A comemoração é feita ao som de tambores de jongueiros vindos de várias comunidades do Rio, como: Quissamã, Pinheiral, Barra do Piraí, Serrinha e Angra dos Reis. Além disso, inclui também muita feijoada e uma missa afro.
À noite, o jongo do quilombo São José, que é tido como um dos mais próximos ao que era praticado pelos escravos, é apresentado ao redor de uma grande fogueira. No decorrer da dança todos são abençoados por Mãe Teresinha, 63 anos, atual líder espiritual da comunidade. Segundo ela, estes rituais foram mantidos graças ao empenho de Mãe Zeferina, que morreu em 2003. Em vida, ela abriu o jongo para a participação das crianças, garantindo que a tradição não morresse com o passar dos anos.
“Sou filha legítima de Mãe Zeferina e trabalhei com ela no terreiro por cerca de 30 anos. Antigamente, crianças não podiam participar do jongo. Quando ela assumiu a liderança espiritual da comunidade, uma das primeiras coisas que fez foi permitir que as crianças jongassem também. Se não fosse a força espiritual não existiria o jongo. Ele surgiu com os Pretos Velhos, tataravôs da gente. A raiz continua igualzinho. Cada tambor tem o seu dono, tem os orixás que tomam conta dele. É uma coisa muito séria, que respeitamos como uma religião”, esclarece Mãe Teresinha.
Seja de carro ou em caravanas como a do Projeto Raízzes, com pessoas
da Baixada e da Zona Norte do Rio, a cada ano cerca de mil pessoas sobem
a Serra da Beleza para conhecer o cotidiano do quilombo. Nilton
Brandão, 50 anos, participante fiel dos passeios, já foi três vezes à
comunidade, mas a visita deste ano teve um diferencial:
“Sempre tive vontade de trazer meus filhos aqui. Agora trouxe. É importante para eles saberem de onde viemos. Temos que valorizar nosso povo, nossas raízes. Quando cheguei aqui pela primeira vez foi uma emoção muito forte, tanto que chorei por uns vinte ou trinta minutos. Aqui, tudo me aproxima de minhas origens; a maneira do pessoal tratar, as vozes deles, você é tratado com humildade. Dá até para sentir a energia positiva vinda de nossos ancestrais”, relata.
A falta de infra-estrutura acaba favorecendo também a manutenção dessa cultura secular. No local só se chega a pé ou de carro. Telefone não funciona, carteiro não passa e a única escola, construída nos fundos da capela, só ensina até a quarta-série do Ensino Fundamental. A própria energia elétrica só foi instalada a pouco mais de cinco anos
Alegrias e dificuldades
Em todo o estado do Rio existem 14 comunidades remanescentes de
quilombos, onde vivem cerca de 770 famílias. Embora São José da Serra
tenha recebido o título quilombola, a pouco mais de seis anos,
judicialmente ela ainda não possui o registro das terras. Um dos motivos
é que o atual proprietário da fazenda alega que ali não tem a
característica de um sítio de escravos fugitivos, pois os negros que
permaneceram no local, após a abolição da escravatura, fizeram isto por
vontade própria e com o consentimento dos antigos proprietários.
A demora da conquista da posse efetiva da terra tem prejudicado e colocado em risco à preservação da cultura local. "Isso dificulta muito o nosso dia-a-dia. Eu cresci na roça, junto com meus irmãos e nunca faltou alimento. Nós plantávamos de tudo, atualmente só podemos plantar nos quintais. Se fazemos uma roça além, vem o gado da fazenda e acaba com tudo. Aí a gente acaba tendo que sair da terra porque nem emprego pra gente eles oferecem. Os trabalhadores da fazenda vêm tudo de fora", desabafa José Ricardo, 25 anos.
A impossibilidade de continuar com a prática da agricultura de subsistência e a falta de emprego no local têm feito com que os jovens, progressivamente, saiam em busca de novas oportunidades. Diante disso, novas profissões vão surgindo. Entre uma conversa e outra, o quilombo revela talentos que vão desde eletricista autodidata ao corredor João Batista, 27 anos, que inclusive ganhou diversas competições, ficando em segundo lugar numa maratona estadual. Mas atualmente, por falta de patrocínio, trabalha como pedreiro em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.
Hora da despedida
Ocupando duas áreas demarcadas, num total de 25 hectares, na
comunidade é possível passar o tempo longe do mecanicismo moderno. O
verde, o ar puro, a água da mina e a terra macia embaixo dos pés, são um
convite para refletir e aproveitar a vida. O retorno para casa deixa em
todos a sensação de ainda ouvir, mesmo que cantado pelo vento, que
embala as folhas das árvores da Serra da Beleza, o som das músicas e
tambores do jongo, reafirmando a frase, também dita pelo patriarca da
comunidade São José: “Cada tambor tem seu dono. Ele pode morrer, mas
continua jongando".
O clima também encanta pessoas como o motorista de ônibus, Alfredo Esteves, de 52 anos: “A grande verdade é que eu tinha um desejo muito grande de conhecer um quilombo. Agora realizei esse sonho e ainda tive a oportunidade, embora do meu jeito, de dançar o jongo. Apaixonei-me. Com certeza quero voltar!”. garante.
Meu Adeus
Esta reportagem é dedicada a minha avó, Glória André, falecida no último dia 13 de maio, enquanto eu estava no quilombo São José da Serra fazendo esta apuração. Como o celular não funciona no local, só pude saber do ocorrido cerca de 24h após, quando chegávamos em Conservatória. Infelizmente não pude dar-lhe o último adeus. Mas deixo-lhe a letra de jongo: “No dia 13 de Maio, o cativeiro acabou e os escravos gritavam: liberdade Senhor!”. Mulher, negra, com extrema força, que deixou essa terra logo no dia em que se comemora nossa liberdade, para brilhar, como as chamas que vi flamejarem na fogueira, em algum outro lugar, perto ou distante. Agora sim estás livre!
*Matéria publicada no site Viva Favela em 24/05/2006
Texto e fotos: Fabiana André
24/05/2006
Capelinha e casas de sapê da comunidade de São José da Serra, em Valença |
Localizado a cerca de 55 Km de Valença, município do interior do estado do Rio de Janeiro, o quilombo São José da Serra é um referencial de preservação de tradições africanas. O passado e o presente misturam-se no cotidiano desses moradores que ainda utilizam o candeeiro, o ferro a brasa e o fogão a lenha. Por uma estrada de terra batida, tão antiga quanto os 150 anos da comunidade, pesquisadores, jornalistas e caravanas vindas de várias regiões do país, aventuram-se em busca de um contato mais íntimo com a cultura local ou até mesmo um conhecimento mais aprofundado das próprias raízes.
A história da área começa em meados do século XIX, quando negros bantos chegam como escravos na fazenda Santa Isabel, a fim de trabalharem nas lavouras de café da região. Entre eles estavam os casais Tertuliano e Miquelina; Pedro e Militana. Avós de Manoel Seabra, 86 anos, atual patriarca da comunidade:
“Meus avós foram trazidos como escravos para a fazenda Santa Isabel. Ali tinha uma pessoa que maltratava e batia muito nos negros. Como na época já existia a fazenda São José, eles acabaram fugindo para cá, trabalhando em troca de moradia. Meu pai dizia que tinha uns negros que eram forros, trabalhavam nos cafezais, mas não eram castigados. Aqui era tudo mata e vovó morava bem nesse terreiro, onde construíram a capela. Depois os filhos deles casaram e tiveram filhos. O que eu tenho de irmãos nesse mundo de meu Deus, nem sei, ao certo", revela.
Muitos desses familiares permaneceram no local e constituem hoje a Comunidade Remanescente de Quilombo São José. Outros saíram a procura de melhores condições de vida. A pesquisadora do Projeto Raízzes, Marília Felipe, que procura valorizar a importância da influência da cultura africana na construção da sociedade brasileira, conta que alguns desses quilombolas migraram para diversas regiões do país, inclusive indo parar na Baixada Fluminense:
“Com o fim da lavoura de café e a falta de serviço na região de Valença, alguns desses moradores mudaram-se do quilombo. Há registros de alguns deles como o da irmã mais velha dos 15 irmãos, do senhor Manoel Seabra, Vó Brandina, mãe de Dona Zeferina. Ela mudou-se para Nova Iguaçu e trabalhou por algum tempo em plantações de laranja da Baixada”, explica.
Dia de festa
Roda de jongo também é aberta às crianças |
No mesmo terreiro onde foram construídas as primeiras casas de escravos, no Dia 13 de Maio, é realizada uma grande festa em homenagem aos Pretos Velhos, considerados guias ou protetores, por seguidores da umbanda, religião de matriz africana cultuada no Brasil. A comemoração é feita ao som de tambores de jongueiros vindos de várias comunidades do Rio, como: Quissamã, Pinheiral, Barra do Piraí, Serrinha e Angra dos Reis. Além disso, inclui também muita feijoada e uma missa afro.
À noite, o jongo do quilombo São José, que é tido como um dos mais próximos ao que era praticado pelos escravos, é apresentado ao redor de uma grande fogueira. No decorrer da dança todos são abençoados por Mãe Teresinha, 63 anos, atual líder espiritual da comunidade. Segundo ela, estes rituais foram mantidos graças ao empenho de Mãe Zeferina, que morreu em 2003. Em vida, ela abriu o jongo para a participação das crianças, garantindo que a tradição não morresse com o passar dos anos.
“Sou filha legítima de Mãe Zeferina e trabalhei com ela no terreiro por cerca de 30 anos. Antigamente, crianças não podiam participar do jongo. Quando ela assumiu a liderança espiritual da comunidade, uma das primeiras coisas que fez foi permitir que as crianças jongassem também. Se não fosse a força espiritual não existiria o jongo. Ele surgiu com os Pretos Velhos, tataravôs da gente. A raiz continua igualzinho. Cada tambor tem o seu dono, tem os orixás que tomam conta dele. É uma coisa muito séria, que respeitamos como uma religião”, esclarece Mãe Teresinha.
Nilton trouxe os filhos |
“Sempre tive vontade de trazer meus filhos aqui. Agora trouxe. É importante para eles saberem de onde viemos. Temos que valorizar nosso povo, nossas raízes. Quando cheguei aqui pela primeira vez foi uma emoção muito forte, tanto que chorei por uns vinte ou trinta minutos. Aqui, tudo me aproxima de minhas origens; a maneira do pessoal tratar, as vozes deles, você é tratado com humildade. Dá até para sentir a energia positiva vinda de nossos ancestrais”, relata.
A falta de infra-estrutura acaba favorecendo também a manutenção dessa cultura secular. No local só se chega a pé ou de carro. Telefone não funciona, carteiro não passa e a única escola, construída nos fundos da capela, só ensina até a quarta-série do Ensino Fundamental. A própria energia elétrica só foi instalada a pouco mais de cinco anos
Alegrias e dificuldades
José Ricardo: falta opção de trabalho |
A demora da conquista da posse efetiva da terra tem prejudicado e colocado em risco à preservação da cultura local. "Isso dificulta muito o nosso dia-a-dia. Eu cresci na roça, junto com meus irmãos e nunca faltou alimento. Nós plantávamos de tudo, atualmente só podemos plantar nos quintais. Se fazemos uma roça além, vem o gado da fazenda e acaba com tudo. Aí a gente acaba tendo que sair da terra porque nem emprego pra gente eles oferecem. Os trabalhadores da fazenda vêm tudo de fora", desabafa José Ricardo, 25 anos.
A impossibilidade de continuar com a prática da agricultura de subsistência e a falta de emprego no local têm feito com que os jovens, progressivamente, saiam em busca de novas oportunidades. Diante disso, novas profissões vão surgindo. Entre uma conversa e outra, o quilombo revela talentos que vão desde eletricista autodidata ao corredor João Batista, 27 anos, que inclusive ganhou diversas competições, ficando em segundo lugar numa maratona estadual. Mas atualmente, por falta de patrocínio, trabalha como pedreiro em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.
Hora da despedida
Projeto Raízzes se despede da Serra da Beleza |
O clima também encanta pessoas como o motorista de ônibus, Alfredo Esteves, de 52 anos: “A grande verdade é que eu tinha um desejo muito grande de conhecer um quilombo. Agora realizei esse sonho e ainda tive a oportunidade, embora do meu jeito, de dançar o jongo. Apaixonei-me. Com certeza quero voltar!”. garante.
Meu Adeus
Esta reportagem é dedicada a minha avó, Glória André, falecida no último dia 13 de maio, enquanto eu estava no quilombo São José da Serra fazendo esta apuração. Como o celular não funciona no local, só pude saber do ocorrido cerca de 24h após, quando chegávamos em Conservatória. Infelizmente não pude dar-lhe o último adeus. Mas deixo-lhe a letra de jongo: “No dia 13 de Maio, o cativeiro acabou e os escravos gritavam: liberdade Senhor!”. Mulher, negra, com extrema força, que deixou essa terra logo no dia em que se comemora nossa liberdade, para brilhar, como as chamas que vi flamejarem na fogueira, em algum outro lugar, perto ou distante. Agora sim estás livre!
*Matéria publicada no site Viva Favela em 24/05/2006
Texto e fotos: Fabiana André
No caminho do jongo
por: Fabiana Oliveira (André)
15/11/2006
O que foi convencionado para ser no dia 20 de Novembro é celebrado o ano inteiro por pessoas que, através do jongo, mantém viva a consciência da cultura negra. Para tanto, estes guerreiros não medem esforços. Mesmo impedidos pela chuva de chegarem até o quilombo São José da Serra, em Valença, no interior do estado do Rio, onde aconteceu o XI Encontro de Jongueiros, os jongos da Serrinha, Piquete e Guaratinguetá, não deixaram de comemorar.
Como a estrada que leva até o local marcado para a realização do evento é de barro, o excesso de lama acabou separando fisicamente os grupos de jongueiros. Quem chegou mais cedo, conseguiu subir e participar da programação.Os outros, que não tiveram a mesma sorte, nem assim deixaram de festejar. A roda foi feita com muita alegria no meio do caminho mesmo, numa escola de Santa Isabel, última vila antes do quilombo.
Trazido da África pelos negros escravizados, o jongo é uma herança que vem passando de geração em geração no Brasil. Segundo a pesquisadora Marília Felipe, na dança participam homens e mulheres. Posicionando-se em forma de roda, um solista, o jongueiro, inicia uma canção chamada de “ponto”, enquanto os outros participantes respondem em coro batendo palmas e fazendo movimentos laterais:
“O jongo tem início sempre com uma louvação, acompanhada com muito respeito por todos os participantes. Em seguida são cantados os “pontos”, baseados em um verso curto e fácil de ser cantado, que nem sempre são improvisados, pois há aqueles tradicionais que correm o mundo”, explica a estudiosa.
Há famílias como a de Jeferson de Oliveira, de 41 anos, onde o jongo sobrevive há mais de 150 anos, passando de pai para filho. E com ele não foi diferente. Jongueiro, como ele mesmo diz, desde a barriga da mãe, Jeferson ou Jefinho Tamandaré, do Jongo de Guaratinguetá, em São Paulo, está tendo o mesmo cuidado de passar para a filha recém-nascida, a tradição e paixão pela atividade:
“Eu sou bisneto de escravos. O bairro onde a gente mora a maioria é negra. A minha família é toda de jongueiros. O primeiro jongo que eu fui foi na barriga de minha mãe. Com minha filha aconteceu o mesmo. Quero que ela cresça jongando”, diz entusiasmado o também compositor de samba enredo.
Se há dificuldade para a implementação da lei 10.639/2003, que obriga o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas do País, o mesmo parece não acontecer em Guaratinguetá. Segundo Jeferson, nas oito ruas do bairro, todas contam com a presença de jongueiros. Tanto que o local recebeu, recentemente, da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania de São Paulo, o Título de Comunidade Remanescente de Quilombo. E não é só jongo que tem significativa aceitação, outros ritmos de matriz africana também são bem vindos no local:
“Aqui a gente dança também maculelê e samba de roda. Além disso, temos duas escolas de samba. Até nas escolas a cultura africana é valorizada. Volta e meia nós vamos lá dar oficinas para eles, apresentando nossa cultura. A idéia é estarmos levando para frente!”, afirma orgulhoso.
Foi na escola que Luíza Marmello, de 46 anos, teve contato pela primeira vez com o jongo. E como não poderia deixar de ser, logo encantou-se com o farfalhar de saias e o som dos dois tambores; o maior (Tambu) e um menor (Candongueiro). Há 15 anos ela dá aulas de canto para as crianças do Jongo da Serrinha, em Madureira, na Zona Oeste do Rio:
“Estudava na Escola Villa Lobos e tive meu primeiro contato com o jongo, através do mestre Darcy que foi até lá dar uma oficina para a gente sobre o jongo. Fiquei encantada e fui até a Serrinha conhecer melhor. Com dois meses já tinha aprendido tocar os tambores, o canto e a dança e estou lá até hoje.Tenho na minha cabeça que os negros que vieram para cá como escravos eram todos reis e rainhas. Na minha concepção é assim. Pode ser até que não fosse. Graças a Deus tem esse encontro para manter viva a integração", analisa.
Unindo famílias
“A menina me pediu laço de fita pra cintura / Aí eu mandei cordão de ouro/ Laço de fita não atura”. Com olhar apaixonado, Rudnei Nicacio, de 29 anos, do Jongo de Piquete, na divisa entre Minas e São Paulo, lembrou a música que cantou há três anos, quando conheceu sua atual mulher, Rozilis Luíza, de 32 anos, também jongueira:
“A minha história é até meio diferente. Eu fazia parte do Jongo do Pinheiral e ela era do Piquete. Nos conhecemos num encontro de jongueiros. Aí fui chegando, me interando com a comunidade, nos casamos e hoje sou do Piquete”, relembra sob o olhar de aprovação da companheira.
Para Rudnei, atualmente a valorização do jongo é maior. Herança deixada pelos africanos para o povo brasileiro, o respeito e reverência são fundamentais na hora da dança. A matriarca do Jongo da Serrinha, Tia Maria, de 86 anos, diz que abrir o jongo para que as crianças pudessem participar, foi fundamental para a permanência desta cultura:
“Antes as crianças não podiam jongar. Para o jongo não morrer na
Serrinha, a vovó Maria Joana pediu que colocasse as crianças para
jongar. Antes só os velhos dançavam. Na minha infância era muito fechado
mesmo. Eles botavam a gente para dormir e só abriam a roda depois da
meia-noite. E o jongo ia madrugada a dentro. Hoje se jonga em qualquer
hora. Mas ainda tem que haver o respeito. O jongo é uma dança de
preto-velho, escravo. Eles morreram jongando. As almas estão ali.
Enquanto está jogando a gente tem que ter muito respeito”, lembra com
satisfação.
Veja as fotos do encontro em Santa Isabel.
*Matéria publicada no dia 15/11/2006 no portal Viva Favela
Texto: Fabiana André
Fotos: Walter Mesquita
15/11/2006
O jongo é uma herança que vem passando de geração em geração no Brasil. |
O que foi convencionado para ser no dia 20 de Novembro é celebrado o ano inteiro por pessoas que, através do jongo, mantém viva a consciência da cultura negra. Para tanto, estes guerreiros não medem esforços. Mesmo impedidos pela chuva de chegarem até o quilombo São José da Serra, em Valença, no interior do estado do Rio, onde aconteceu o XI Encontro de Jongueiros, os jongos da Serrinha, Piquete e Guaratinguetá, não deixaram de comemorar.
Como a estrada que leva até o local marcado para a realização do evento é de barro, o excesso de lama acabou separando fisicamente os grupos de jongueiros. Quem chegou mais cedo, conseguiu subir e participar da programação.Os outros, que não tiveram a mesma sorte, nem assim deixaram de festejar. A roda foi feita com muita alegria no meio do caminho mesmo, numa escola de Santa Isabel, última vila antes do quilombo.
Trazido da África pelos negros escravizados, o jongo é uma herança que vem passando de geração em geração no Brasil. Segundo a pesquisadora Marília Felipe, na dança participam homens e mulheres. Posicionando-se em forma de roda, um solista, o jongueiro, inicia uma canção chamada de “ponto”, enquanto os outros participantes respondem em coro batendo palmas e fazendo movimentos laterais:
Marília: o jongo tem início com uma louvação |
“O jongo tem início sempre com uma louvação, acompanhada com muito respeito por todos os participantes. Em seguida são cantados os “pontos”, baseados em um verso curto e fácil de ser cantado, que nem sempre são improvisados, pois há aqueles tradicionais que correm o mundo”, explica a estudiosa.
Há famílias como a de Jeferson de Oliveira, de 41 anos, onde o jongo sobrevive há mais de 150 anos, passando de pai para filho. E com ele não foi diferente. Jongueiro, como ele mesmo diz, desde a barriga da mãe, Jeferson ou Jefinho Tamandaré, do Jongo de Guaratinguetá, em São Paulo, está tendo o mesmo cuidado de passar para a filha recém-nascida, a tradição e paixão pela atividade:
Jeferson é jongueiro desde a barriga da mãe |
“Eu sou bisneto de escravos. O bairro onde a gente mora a maioria é negra. A minha família é toda de jongueiros. O primeiro jongo que eu fui foi na barriga de minha mãe. Com minha filha aconteceu o mesmo. Quero que ela cresça jongando”, diz entusiasmado o também compositor de samba enredo.
Se há dificuldade para a implementação da lei 10.639/2003, que obriga o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas do País, o mesmo parece não acontecer em Guaratinguetá. Segundo Jeferson, nas oito ruas do bairro, todas contam com a presença de jongueiros. Tanto que o local recebeu, recentemente, da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania de São Paulo, o Título de Comunidade Remanescente de Quilombo. E não é só jongo que tem significativa aceitação, outros ritmos de matriz africana também são bem vindos no local:
“Aqui a gente dança também maculelê e samba de roda. Além disso, temos duas escolas de samba. Até nas escolas a cultura africana é valorizada. Volta e meia nós vamos lá dar oficinas para eles, apresentando nossa cultura. A idéia é estarmos levando para frente!”, afirma orgulhoso.
Luiza se encantou com farfalhar de saias |
Foi na escola que Luíza Marmello, de 46 anos, teve contato pela primeira vez com o jongo. E como não poderia deixar de ser, logo encantou-se com o farfalhar de saias e o som dos dois tambores; o maior (Tambu) e um menor (Candongueiro). Há 15 anos ela dá aulas de canto para as crianças do Jongo da Serrinha, em Madureira, na Zona Oeste do Rio:
“Estudava na Escola Villa Lobos e tive meu primeiro contato com o jongo, através do mestre Darcy que foi até lá dar uma oficina para a gente sobre o jongo. Fiquei encantada e fui até a Serrinha conhecer melhor. Com dois meses já tinha aprendido tocar os tambores, o canto e a dança e estou lá até hoje.Tenho na minha cabeça que os negros que vieram para cá como escravos eram todos reis e rainhas. Na minha concepção é assim. Pode ser até que não fosse. Graças a Deus tem esse encontro para manter viva a integração", analisa.
Unindo famílias
Rudnei conheceu Rozilis em uma roda de jongo |
“A menina me pediu laço de fita pra cintura / Aí eu mandei cordão de ouro/ Laço de fita não atura”. Com olhar apaixonado, Rudnei Nicacio, de 29 anos, do Jongo de Piquete, na divisa entre Minas e São Paulo, lembrou a música que cantou há três anos, quando conheceu sua atual mulher, Rozilis Luíza, de 32 anos, também jongueira:
“A minha história é até meio diferente. Eu fazia parte do Jongo do Pinheiral e ela era do Piquete. Nos conhecemos num encontro de jongueiros. Aí fui chegando, me interando com a comunidade, nos casamos e hoje sou do Piquete”, relembra sob o olhar de aprovação da companheira.
Para Rudnei, atualmente a valorização do jongo é maior. Herança deixada pelos africanos para o povo brasileiro, o respeito e reverência são fundamentais na hora da dança. A matriarca do Jongo da Serrinha, Tia Maria, de 86 anos, diz que abrir o jongo para que as crianças pudessem participar, foi fundamental para a permanência desta cultura:
Tia Maria(E): crianças para o jongo não morrer |
Veja as fotos do encontro em Santa Isabel.
*Matéria publicada no dia 15/11/2006 no portal Viva Favela
Texto: Fabiana André
Fotos: Walter Mesquita
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